Tenho que confessar que, como fã de poesia, sinto-me um tantinho entristecida ao constatar que a poesia não está bem cotada no quesito preferência do leitor. Por favor, não tomem tal afirmação como censura da minha parte. Pelo contrário, agradeço os leitores do mês pela boa vontade com que se dedicaram ao tema. Só lastimo bastante o que penso ser uma das causas disso: a negligência escolar no que tange ao incentivo à leitura de poesias. Essas últimas são postas em planos secundários em favorecimento de um único modelo de leitura: o prosaico. Sempre me perguntei como a arte de saber pensar (pois é o que a poesia significa para mim) pode ser relegada a trechos dispersos em livros didáticos.

Bem, não vou me estender nessa questão. Mas, em defesa da poesia, digo que ela não se restringe somente à sua própria natureza ornamental. Em sua estrutura, o apelo das palavras é questão de estética, claro, mas também de raciocínio, dada a sua natureza simbólica. Na condição de usuários da linguagem simbólica, como não amar poesia que é a pura educação dos sentidos? É o que agora me pergunto.

Talvez, conforme à fala de Quintana, a poesia tenha nascido mesmo para ser cantada, isto é, “a comunicação oral da poesia, ante milhares de pessoas (e não, como hoje, a poesia impressa, para leitura a sós, nos gabinetes), a poesia tal como se apresentava na Antigüidade e na Idade Média. E ainda hoje, nas regiões não alfabetizadas do Brasil, poetas do sertão cantam a sua poesia nos mafuás — quem foi que disse que o povão não gosta de poesia”? (Da Preguiça como método de trabalho, de Mario Quintana)

Sábio Quintana! Para aprender a gostar e a compreender poesias, talvez seja preciso voltar às origens onde os leitores viveram o esplendor da oralidade. Assim como os cantores que decifram em voz alta o conteúdo de uma partitura musical, eram os leitores também interpretes do texto poético.

Para aqueles que querem tentar sem desafinar, segue uma breve instrução do crítico literário Émile Faguet.

“Os poetas propriamente ditos (...) devem ser lidos, primeiro, em voz baixa e, em seguida, em voz alta. Primeiro, em voz baixa, para que compreendamos seu pensamento, pois a maioria de nós, por força do hábito, não compreende mais do que a metade do que lê em voz alta. Depois, em voz alta, para que o ouvido se dê conta da cadência e da harmonia, sem que, dessa vez, o espírito deixe escapar o sentido, pois já o terá assimilado antecipadamente." (A arte de ler, de Émile Faguet)

Em suma, o que a leitura de poesia requer mesmo é participação.

Para um tema impopular, apresentamos um número bom de leituras. 58 livros. Não foi tão mal. É um começo. Aliás, foi um dos temas que mais primou pela variedade. Tanto é que leituras coincidentes foram pouquíssimas. O livro mais lido do mês, Sentimento do mundo de Carlos Drummond de Andrade, foi escolhido por apenas três de nossos participantes. Bem, os poetas aqui reunidos dão ideia da variedade e qualidade que foi a rodada de dezembro.


Leitores destaques do mês:
Amanda Löwenhaupt – 16 livros
Adriana Elger – 5 livros
Vera Lúcia – 5 livros
Letícia Estella – 4 livros

(Se o nome de quem leu mais de três livros não aparecer na lista, ou se houver algum outro erro no cômputo, por favor, avise-nos. Teremos o maior prazer em reparar o erro.)



2 Comments

  1. Depois de um ano maravilhoso de conhecimento literário, essa viagem que nunca se cansa de fazer, é muito bom ver meu nome entre os leitores do mês. Sempre gostei de poesia e por esse motivo me dediquei mais nesse mês.
    Beijos a todos do DL e bem vindo DL 2013.

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  2. Vivi, acho que sua colocação sobre o porquê da nossa dificuldade com a poesia é muito certeira: a gente não "aprende" a desfrutar deste tipo de escrita na escola e fica condicionado a só um modelo.

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