Resenha Fevereiro 2011:
Tema: Biografia / Mês: Fevereiro – opção 1
por Cleia (cleia.le@bol.com.br)
título: SOU DONA DA MINHA ALMA – O SEGREDO DE VIRGINIA WOOLF
autor: Nadia Fusini
editora: Bertrand Brasil
páginas:416 páginas
título original: Possiedo La Mia Anima
tradução de: Karina Janinni
Li apenas 2 livros de Virginia Woolf, e isso há muitos anos, ainda no colegial: “Mrs. Dalloway” e “Entre os Atos”. Foi pouco. Obras importantes como Orlando e Ao Farol foram sendo adiadas por todo este tempo, mas nunca desisti de um dia voltar a esta maravilhosa escritora. Nunca a esqueci, porque não lembro de ter lido nada igual. O texto de Virginia é como uma tapeçaria, em que milhares de pequenos detalhes vão graciosamente interferindo na cena principal e vão captando nosso olhar, informando sobre tudo simultaneamente, desde a paisagem e os ambientes, aos traços de caráter dos personagens e suas emoções. Há muitas palavras, mas nenhuma é excessiva. O tempo flui devagar, mas nada é monótono e, sem que perceba, o leitor vai mergulhando em seu universo e compreendendo em profundidade cada personagem, conduzido pela escrita firme e rica, um precioso bordado. Melhor, uma renda, através da qual se vê além.
Também Nadia Fusini vai tecendo sua renda e nos conduzindo através da vida de Virginia detalhadamente, nos fazendo olhar para os lados, avançando vagarosamente para não deixar escapar nenhum detalhe. O texto desvia, avança, retrocede, e alimenta a narrativa com conteúdos que se cruzam e se reforçam e revelam. Os fatos não obedecem a uma cronologia meramente linear e vão sendo abordados em espiral, da superfície em direção ao fundo da alma da escritora. A busca da essência de Virginia é longa , pois não se restringe a contar sua vida, a partir dela fala de aspectos da sociedade inglesa e do mundo naquele tempo.
A autora também não desperdiça palavras, cada uma merece ser lida. E conta a vida de Virginia desde a infância até à maturidade relacionando os acontecimentos e os sentimentos registrados pela própria escritora em seu diário à sua obra. Emociona ao explorar ao conflito vivido por Virginia, forte para criticar a sociedade vitoriana que oprimia e restringia o desenvolvimento intelectual e a independência econômica das mulheres e, ao mesmo tempo, frágil para enfrentar um novo modo de viver no qual, em contrapartida, colocava a mulher frente a novos desafios.
Sempre sob uma ótica muito feminina e com apurada sensibilidade, Nadia parece conversar com o leitor, melhor, com a leitora. Sim, a autora parece estar se dirigindo especificamente a mulheres, como se para elas fosse mais fácil compreender o universo profundamente feminino em que Virginia se fecha e se defende. Assim aborda a solidão psicológica e sua incapacidade de lidar com a sexualidade, com as perdas afetivas e enfim, com a realidade de um mundo que considera em desequilíbrio, regido pela força masculina.
Aos poucos vamos compreendendo como Virginia viveu o processo salvador de colocar no papel tudo que estava dentro de si, angustiado, irresoluto, a fervilhar. Extirpou as dores, da infância à fase adulta, através da escrita e talvez por isso sua obra seja tão plena de vida. Para Virginia era vital escrever: viveu pra isso, viveu porque escrevia. Respirava inspirando emoção e expirando literatura. O que apreendia do mundo em que vivia transformava em palavras para serem lidas Até que, pela fragilidade psicológica agravada pela realidade desoladora da guerra, já não consegue escrever. E como escrever era o que alimentava sua alma, antes de enlouquecer, Virginia decide partir.
Esta não é a única nem a primeira biografia de Virginia Woolf. Mas Nadia vai além, quer desvendar a alma e o segredo desta escritora, de vida e obra tão singular, e acerta em cheio. Não se restringe a relatar sua vida, mas a justifica. Capta a atmosfera aparentemente superficial, porém complexa e densa da obra de Virginia e assim constrói este livro maravilhosamente escrito. E escreve como se ela fosse a própria.
Vale a pena acompanhar Nadia Fusini nessa busca pelo segredo de Virginia Woof.
Nota: 5/5
Tema: Biografia / Mês: Fevereiro – opção 1
por Cleia (cleia.le@bol.com.br)
título: SOU DONA DA MINHA ALMA – O SEGREDO DE VIRGINIA WOOLF
autor: Nadia Fusini
editora: Bertrand Brasil
páginas:416 páginas
título original: Possiedo La Mia Anima
tradução de: Karina Janinni
Li apenas 2 livros de Virginia Woolf, e isso há muitos anos, ainda no colegial: “Mrs. Dalloway” e “Entre os Atos”. Foi pouco. Obras importantes como Orlando e Ao Farol foram sendo adiadas por todo este tempo, mas nunca desisti de um dia voltar a esta maravilhosa escritora. Nunca a esqueci, porque não lembro de ter lido nada igual. O texto de Virginia é como uma tapeçaria, em que milhares de pequenos detalhes vão graciosamente interferindo na cena principal e vão captando nosso olhar, informando sobre tudo simultaneamente, desde a paisagem e os ambientes, aos traços de caráter dos personagens e suas emoções. Há muitas palavras, mas nenhuma é excessiva. O tempo flui devagar, mas nada é monótono e, sem que perceba, o leitor vai mergulhando em seu universo e compreendendo em profundidade cada personagem, conduzido pela escrita firme e rica, um precioso bordado. Melhor, uma renda, através da qual se vê além.
Também Nadia Fusini vai tecendo sua renda e nos conduzindo através da vida de Virginia detalhadamente, nos fazendo olhar para os lados, avançando vagarosamente para não deixar escapar nenhum detalhe. O texto desvia, avança, retrocede, e alimenta a narrativa com conteúdos que se cruzam e se reforçam e revelam. Os fatos não obedecem a uma cronologia meramente linear e vão sendo abordados em espiral, da superfície em direção ao fundo da alma da escritora. A busca da essência de Virginia é longa , pois não se restringe a contar sua vida, a partir dela fala de aspectos da sociedade inglesa e do mundo naquele tempo.
A autora também não desperdiça palavras, cada uma merece ser lida. E conta a vida de Virginia desde a infância até à maturidade relacionando os acontecimentos e os sentimentos registrados pela própria escritora em seu diário à sua obra. Emociona ao explorar ao conflito vivido por Virginia, forte para criticar a sociedade vitoriana que oprimia e restringia o desenvolvimento intelectual e a independência econômica das mulheres e, ao mesmo tempo, frágil para enfrentar um novo modo de viver no qual, em contrapartida, colocava a mulher frente a novos desafios.
Sempre sob uma ótica muito feminina e com apurada sensibilidade, Nadia parece conversar com o leitor, melhor, com a leitora. Sim, a autora parece estar se dirigindo especificamente a mulheres, como se para elas fosse mais fácil compreender o universo profundamente feminino em que Virginia se fecha e se defende. Assim aborda a solidão psicológica e sua incapacidade de lidar com a sexualidade, com as perdas afetivas e enfim, com a realidade de um mundo que considera em desequilíbrio, regido pela força masculina.
Aos poucos vamos compreendendo como Virginia viveu o processo salvador de colocar no papel tudo que estava dentro de si, angustiado, irresoluto, a fervilhar. Extirpou as dores, da infância à fase adulta, através da escrita e talvez por isso sua obra seja tão plena de vida. Para Virginia era vital escrever: viveu pra isso, viveu porque escrevia. Respirava inspirando emoção e expirando literatura. O que apreendia do mundo em que vivia transformava em palavras para serem lidas Até que, pela fragilidade psicológica agravada pela realidade desoladora da guerra, já não consegue escrever. E como escrever era o que alimentava sua alma, antes de enlouquecer, Virginia decide partir.
Esta não é a única nem a primeira biografia de Virginia Woolf. Mas Nadia vai além, quer desvendar a alma e o segredo desta escritora, de vida e obra tão singular, e acerta em cheio. Não se restringe a relatar sua vida, mas a justifica. Capta a atmosfera aparentemente superficial, porém complexa e densa da obra de Virginia e assim constrói este livro maravilhosamente escrito. E escreve como se ela fosse a própria.
Vale a pena acompanhar Nadia Fusini nessa busca pelo segredo de Virginia Woof.
Nota: 5/5
Nota da capa : 5/5 – A capa é linda – cores, foto, lay out – e tem até uma faixa de renda emoldurando o rosto melancólico de Virginia sugerindo feminilidade e delicadeza. Capta o olhar do leitor imediatamente e está em completa harmonia com o clima do texto.
Clap, clap,clap...com uma resenhas dessa, eu me rendo! Lindo relato e linda capa!
ResponderExcluirBjs
Uau, que resenha fantástica! Parabéns :)
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