Resenha escrita por Carina de Brito ( Tema Nome Próprio/Fevereiro)

 Em defesa de Capitu

Difícil é falar de quem nunca nos dirigiu a palavra, de quem nem ouvimos o som da voz, ou mesmo de quem nem sabemos ao certo, se respira. É assim que me sinto por querer defender Capitu.   Bento Santiago, o nosso Bentinho, faz jus as qualidades de Capitu, contamos com altas definições do porque se apaixonou por esta moça. Contudo, foi ele, Bentinho, que nos contou e não Capitu que se mostrou ou argumentou ou defendeu a própria história. A falha para poder julgá-la é exatamente isso que acabo de vos falar, a narrativa é contada por quem vivenciou na pele o sofrimento de uma história de amor frustrada pelos ciúmes, orgulho e vaidade.

Como não iniciar falando dos olhos de cigana oblíqua e dissimulada? “Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. (…) Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.” Capitu sem olhos, não é Capitu. E foram estes mesmo olhos que atraiu irrestivelmente Bentinho, e que matou Escobar.

Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”

Escobar, melhor amigo de Bentinho, morreu afogado e foi seu amigo que organizou o velório e enterro. Mas como mencionei, foram os olhos de ressaca, o olhar de Capitolina que o matou, na verdade, para Bentinho. Seguem-se os vinte últimos capítulos, os 128 capítulos anteriores falam de alegrias e tristezas envolta do amor, todavia estes últimos está claro todo o ódio que há no coração de Bentinho pela traição de Capitu (traição esta nunca comprovada ou admitida pela mesma).

O filho, Ezequiel, seria a prova viva desta traição, pois sua semelhança ao defunto é tanta que o pai, Bentinho, não suporta vê-lo, tem repudio do próprio filho e coloca-o como peça principal de seus desgostos por Capitu. Manda-o para o internato, como se assim pudesse livrar todos os maus pensamentos e sentimentos.

Machado nos prega peças o tempo inteiro, cabe nós cairmos nelas ou não. Há um momento em que o pai de Sancha (amiga de Capitu, viúva de Escobar) traz o seguinte comentário ao Bentinho: “a mãe de Sancha não é parecidíssima com Capitu?” “na vida há dessas semelhanças assim esquisitas”. Ora, se pode assim, haver semelhanças, como a mãe de Sancha ser parecida com Capitu, porque não pode o filho de Bentinho ser dessas semelhanças esquisitas da vida?

Do amor ao ódio em pouquíssimos capítulos, e Capitu, sem chance de defesa, vai para o exterior com o filho. A morte dos dois lhe parece a solução, e depois de tantos anos desse rancor, tudo se esvai por entre os dedos de Bentinho, e o vazio da falta de seu único amor perdura.




                                                                                                                     Carina de Brito



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