A Sangue Frio

Por Maria Amelia Mello

Logo que topei participar do Desafio Lietrário 2012 corri para olhar os temas do mês e me animei com vários. Principalmente porque vi que conseguiria encaixar alguns livros que já tenho e estavam na minha “fila de leitura”, mesmo que para isso ele pulasse à frente dos demais. E este livro é justamente um destes casos, faz parte do acervo aqui da minha casa tem um bom tempo (Círculo do Livro – Coleção Grandes Sucessos da Abril Cultural – Edição de 1980) e meu pai sempre falava que era um ótimo livro, com história verídica mas muito forte.

Acontece que quando li a orelha do livro vi que se tratava de um massacre horrível que aconteceu com uma família no interior do Kansas, estado dos EUA. Estava bem empolgada para ler o livro, mas em dúvida se ele se encaixava no tema proposto: serial-killer. Perguntando no blog do Desafio e depois por email para uma das organizadoras, fiquei aliviada de saber que sim, poderia ler no mês de Março. Mas agora, com o fim da leitura, devo confessar à vocês que não sei se ele se enquadra no tema proposto. Para o próximo ano talvez devesse entrar no tema chacina.

Mas vamos ao livro: ele relata o assassinato cruel de uma família – pai, mãe e um casal de adolescentes – em 15 de novembro de 1959 em Holcomb, cidade localizada no interior do estado do Kansas. O autor é Truman Capote, na época já um famoso escritor americano que cansado da subjetividade dos romances, mergulha neste acontecimento criando o que seria chamado de romance-documentário. É importante dizer que o autor trabalhou neste livro por 6 anos e que ele considera este o seu melhor trabalho.

O começo do livro é um pouco arrastado, mas passado este breve momento de descrição, você se prende a história e apesar de já saber o seu fim, quer realmente descobrir como tudo aconteceu. Uma coisa que achei muito interessante foi a construção do texto não linear e com mudanças de narrador, o que senti ser parte de depoimentos. Creio que moderno para a época.

Antes do brutal massacre à família, Truman nos apresenta a cidade pacata e seus moradores solidários, a família Clutter que era muito estimada na comunidade e mais importante, ele nos apresenta os dois assassinos. Conhecemos o dia-a-dia da família com a briga entre os irmãos, a depressão da mãe, o juvenil namoro da Nancy e nos afeiçoamos a eles. Mas também conhecemos a dupla de assassinos Dick e Perry, vemos como eles se conheceram e em algumas partes como foi o passado de cada um.

O assassinato da família ocorre de maneira fria assim como o livro. Não me entendam mal, o livro é muito bom, mas sua narração é fria e por vezes metódica. O que achei interessante foi o pós-crime, com muita paranóia entre os cidadãos, especulações sobre como tudo aconteceu e o ar sufocante entre os que ficaram.

Com tanto tempo gasto relacionado aos assassinos, entramos em um tema polêmico do livro, pois os leitores se dividem em dois grupos com opiniões distintas: alguns consideram que o autor quis ser imparcial e por isso mostrou os dois lados do crime e outros consideram que o autor defenda os assassinos mostrando uma lado humano deles. Não acho que ninguém consiga ser totalmente imparcial, mas também não consigo acreditar que o autor defenderia alguém como aqueles dois assassinos cruéis.

O que é angustiante de perceber é que quem cometeu esta brutalidade foram pessoas e não monstros, como alguns acreditam que seriam. Justamente por isso percebemos que o autor tenta dar uma humanizada nestes dois bandidos, quero dizer, monstros.

A discussões que o livro traz são bem amplas e vão desde o que levam pessoas a cometer tais crueldades à questão da pena de morte.


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