O gênero literatura infantil tem, a meu ver, existência duvidosa. Haverá música infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra literária deixa de constituir alimento para o espírito adulto? Qual o bom livro para crianças que não seja lido com interesse pelo homem feito? Qual o livro de viagens e aventuras, destinado a adultos, que não possa ser dado a crianças, desde que vazado em linguagem simples e isento de matéria de escândalo?

(drumond de andrade, Carlos. Imprenta, 1964.)



Responda ao desafio é uma sessão mensal em que os participantes terão a oportunidade de responder a uma pergunta instigante acerca da temática do mês. Vamos transformar o DL em um espaço de debates e trocas de ideias. Você que já leu o livro do mês, caro participante, possui bagagem da qual pode se dispor para responder essa pergunta. Vamos discutir?


10 Comments

  1. O livro que eu li para o mês de janeiro foi escrito para a faixa etária de 9-14 anos. Eu já tenho 24 e achei uma leitura bem gostosa. Acho que "literatura infantil" é para toda a vida. Se você lê quando pequeno e gosta, vai querer reler depois de adulto. E quando se é adulto e lê uma obra infantil, essa leitura costuma trazer lembranças da infância, o que é muito bom.
    Também não vejo problema nenhum em se adaptar grandes obras para a linguagem infantil, desde que, claro, seja de uma temática adequada. Acho que só contribui ainda mais para a paixão pela leitura.

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  2. Eu amo livro pra crianca, de todas as faixas etarias! Ate os de bebe eu adoro, adoro as ilustracoes, as rimas. ADORO! Acho que a diferenca do rotulo se da para excluir do publico infantil as obras que nao sao escritas para criancas, e nao porque adulto nao possa ler livro infantil.

    Vivi - da uma olhada na configuracao do Feedburner, que o titulo do blog ainda aparece como Desafio Literario 2010. ;)

    Bjs

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  3. Hoje eu li o livro 1.. vou tentar ler os reservas.. e apesar de ter curtido bastante... e ser meio ingênua.. não sinto muita vontade de ler coisas mais 'bobas'... irei definir assim apenas pela falta de uma palavra melhor agora eheheeh.

    Não vejo problema um adulto ler os livros infantis.. o inverso sim... Os adultos que curtem.. acredito que será uma experiência agradável.. eu com o meu pensamento meio estranho, meio rápido.. que de certa forma nunca foi criança rs.. não me 'divirto' ou 'agrada' tanto ler algo do tipo.

    beijão

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  4. Já li os três livros que elegi para esta temática e é sempre uma grata surpresa me deixar levar por estas leituras. Acredito que esta frase de Drummond é tão pertinente, tão atual, pois ela nos lança ao questionamento fundamental: "A partir de que ponto uma obra literária deixa de constituir alimento para o espírito adulto?" Acredito que não deixe nunca, além das três obras que li para o desafio as obras infantis estão sempre presentes em minhas leituras, e para os que pensam que é apenas uma obrigação profissional ou materna muito se engana, elas fazem parte do meu cotidiano literário pura e simplesmente pelo prazer que proporcionam.

    Gurias, adorei as disucssões que vocês te porposto aqui no Desafio, parabéns a todas :)
    estrelinhas coloridas...

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  5. Olá, caríssimos, estou gostando muito do debate. E obrigada pelas contribuições. De fato, também creio que o prazer está acima dos rótulos e classificações de leitura. Já adulta reconstitui muitas narrativas que povoaram a minha infância, e posso dizer que a experiência assumiu um quê de saudade, mas também pude relembrar as qualidades que me fizeram apreciá-las quando da infância. E descobri novas qualidades. Para mim livros infantis possuem temáticas universais e mais: Possuem elementos que alcançam uma identificação global (afinal todo adulto foi criança um dia). Eu mesma nunca fui de observar esse roteiros classificatórias, aos 11 lia Machado de Assis, Dostoievski e Cia por livre escolha.

    E aí, pessoal, o que pensam a respeito do assunto? Quero ouvir mais opiniões.

    Ana, queridaça, obrigada por avisar, já alterei essa informação no feedburner.

    Bjs

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  6. Sem propriamente responder, antes apenas comentar:em que pese a autoridade do nosso querido Carlos Drumond,não creio que o gênero literatura infantil tenha existência duvidosa. É uma necessidade para conduzir os mais novos, com segurança, ao indescritível prazer de ler.
    Claro que, em nenhum momento "uma obra literária deixa de constituir alimento para o espírito adulto", porém o inverso não é verdadeiro. Uma considerável parte da produção literária não agrada ou não serve para crianças e mesmo para os muito jovens, pois requerem maturidade adequada para sua compreensão e desfrute.
    Lembro que sempre amei ler, e lia livros desde muito pequena, mas por muitos anos passei longe de Machado de Assis, José de Alencar e outros clássicos porque fui obrigada a lê-los no ginásio (alguém sabe o que é isso?) aos 10 / 12 anos e era uma verdadeira tortura. Não fiquei traumatizada com os livros porque já amava Monteiro Lobato, as histórias de aventuras e os contos de fadas, mas só vim fazer as pases com estes autores na idade adulta.
    Não é à toa que, anos mais tarde, as escolas passaram a utilizar adaptações destes livros especificamente para consumo infanto-juvenil, alguns transformados, inclusive, em HQ.
    Abs, Cleia

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  7. Eu concordo com o que grande parte já disse aqui - independente de idade, encontramos prazer em todo tipo de história; isso é algo que depende muito mais de nós mesmos do que da classificação que se faça dos livros.

    Entendo as coisas, contudo, diferente do grande mestre Drummond. Não acho que a literatura infanto-juvenil seja de existência duvidosa: ela tem contornos bastante nítidos que a diferenciam de outras classificações.

    Não é uma questão tanto de conteúdo, mas de linguagem. À medida em que a classificação etária diminui, a linguagem se torna mais simples. Quanto mais novos são os leitores, mais repetitivos são os livros - e isso não é ruim, porque as crianças aprendem sobretudo por repetição.

    Além disso, personagens de livros infantis tendem a fugir de qualquer ambigüidade moral. Os personagens têm papéis bastante específicos, determinados - vilões serão vilões, mocinhos serão mocinhos, sem meio-termo. Claro que, à medida em que os leitores envelhecem, a literatura os acompanha começando a pintar o mundo de cinza, e não apenas preto e branco.

    Claro que isso não é universal, mas é a regra. Pratchett, por exemplo, que foi um dos autores que li para o desafio esse mês, traz personagens que não são perfeitos dentro desse espectro - mas é sempre bom lembrar que Pratchett é um autor totalmente subversivo.

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  8. Acho que o comentário da Luciana exprime muito do que eu penso. Assisti, há algum tempo, a uma palestra com um professor de inglês que escrevia livros didáticos e que falou bastante sobre as "fases cognitivas" [expressão minha] das crianças, e frisou bastante a necessidade que elas têm de escutar histórias que tenham personagens bem definidos - o vilão, o mocinho, etc. - para a formação de alguns mecanismos cognitivos (cuja função eu não me lembro bem agora, sorry). Vários teóricos falaram dessas fases (incluindo o nosso Paulo Freire), mas tem um cara que ele indicou e que comecei a ler que é bem interessante, chamado Kieran Egan.
    A partir dessa ideia de fases, acho que a literatura infanto-juvenil se delimita nas necessidades de cada fase - tanto na linguagem quanto no tema. No entanto, não acredito que ela seja limitada a um público só - alguém já disse que a boa literatura é aquela que é transcendental, portanto, a boa literatura infanto-juvenil deveria transcender o público e falar dos grandes temas da humanidade.
    Tem mais uma teoria sobre mitologia que perpassa a literatura infanto-juvenil, mas eu não consegui estudar sobre isso (ainda), só achei legal mencionar aquela coisa de arquétipos, heróis, etc, que fazem parte de toda literatura.

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  9. O livro que li esse mês não me pareceu infantil, acho que isso ocorreu porque quando penso em literatura infantil imagino aqueles livros bobinhos, nos quais os personagens principais (geralmente crianças) fazem algo errado e são corrigidos pelos pais. Ou seja: livros que procuram dar uma certa "lição de moral".
    Acredito que uma obra literária nunca deixa de constituir alimento para qualquer espírito que seja, mas que é possível sim diferenciar a literatura infantil e a literatura "adulta", pois, a partir do momento em que a pessoa não tem mais aquela necessidade de ler livros que a mostrem 'o bem e o mal' ou 'o certo e o errado', ela passa a ler livros que ensinam outras coisas, mais apropriadas para a sua faixa etáriaa. Sem contar que, como já foi dito, a linguagem dos livros infantis é menos complexa, para facilitar o entendimento.
    Apesar dessa minha visão, não vejo mal algum em adultos lerem livros infantis (até porque, como também já foi dito, eles trazem memórias da infância, o que pode ser muito bom em alguns casos - e em outros nem tanto) ou na adaptação de obras clássicas para o público infantil.

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  10. Eu sou uma criança feliz, eu fui euma criança feliz e continuarei sendo uma criança feliz.
    A literatura infanto-juvenil é muito rica e não tem os limites da realidade da literatura adulta.
    Tudo pode acontecer.
    Tem muita ação, muita aventura e geralmente acompanhadas de valores.
    Por ter uma linguagem mais simples (nem sempre, mas é mais comum) é sempre fácil acompanhar e ler rapidamente.
    Eu adoro ler e ler de tudo, não me preocupo com faixas etárias (já não me preocupava quando tinha 8 anos e lia Decamarão com minha mãe) e acredito que qualquer livro, em especial os juvenis, tem sempre uma mensagem a transmitir que, nas diferentes fases da nossa vida, podem ser diferentes na interpretação.

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