Por Kycia


As consequências do amor, de Sulaiman Addonia (Reserva 1)

Tema: Biografia e/ou Memórias / Mês: Fevereiro / Editora: Record / Número de págs.: 395
Sinopse: Jidá, fim dos anos 1980. Depois da turbulência política em sua terra natal, Naser foi obrigado a emigrar para a Arábia Saudita. Lá as mulheres vivem escondidas sob véus, os homens possuem plenos poderes, e a justiça dos ricos prevalece. Os menores gestos do jovem eritreu são vigiados pela polícia religiosa e sua vida é ritmada pelos sermões do implacável imame da mesquita local. Inesperadamente ele recebe uma mensagem de amor escrita por uma desconhecida e, desafiando os políticos e líderes religiosos, ele decide viver essa paixão. Uma comovente história de amor proibido, em uma Arábia Saudita efervescente e opressiva.

Esse livro entrou na minha lista ano passado por 3 motivos: pela capa; pelo título; e por se passar em um país do Oriente Médio [adoro ler sobre a cultura destes locais]. Apesar de estar louca para lê-lo, acabei adiando e adiando, até que surgiu uma promoção [um dia estas promoções ainda vão me levar à falência] totalmente imperdível e, logicamente, eu cedi à tentação e corri pra comprar. Rsrsrs.
Bem, As conseqüências do amor traz a história de Naser, um eritreu [nascido na Eritreia, um país africano] que ainda garoto emigrou com seu irmão mais novo, Ibrahim, para Jidá [cidade da Arábia Saudita], com o objetivo de fugir dos bombardeios de sua terra natal e também a procura de melhor qualidade de vida.
Lá, ele e seu irmão passam a morar com seu tio, um fervoroso seguidor do islamismo, até que Naser, com 15 anos, é expulso de casa por não concordar com a forma discriminatória e agressiva que o islamismo era pregado. Com isso, ele deixa seu irmão e tio para ir morar na cafeteria [e “motel” só para homens] de Jasim, local este onde ele também passa a trabalhar como garçom.
Só que, naquele país, por ser proibido qualquer tipo de relacionamento entre homens e mulheres antes do casamento [lembrando que os casamentos eram sempre arranjados e feitos mediante pagamento de dotes], os homens que ainda não tinham se casado acabavam usando jovens pobres e, geralmente, estrangeiros para, digamos, aliviar as suas libidos. E Naser, para não perder o único emprego que tinha, acaba se sujeitando a esta situação na cafeteria de Jasim, até o dia em que ele encontra um novo emprego de lavador de carros, visto que se você é estrangeiro acaba se tornando extremamente difícil de encontrar um emprego, mesmo sendo muito mal remunerado.
Porém, apesar de estar cercado por tanto sofrimento e proibições, Naser ainda sonha em encontrar uma mulher que possa amar, mesmo sabendo ser [quase] impossível.
Mas, como o livro mesmo diz “O amor encontrará um caminho, custe o que custar”. E, um belo dia, o jovem eritreu recebe um bilhete amarelo e perfumado que contém uma pequena declaração de amor feita por uma mulher de sapatos rosa [detalhe que todas as mulheres andavam completamente cobertas de preto, da cabeça aos pés]. Com isso, Naser acaba ficando frente a frente com uma decisão que poderia mudar totalmente a sua vida, ou acabar de vez com ela. Se entregar ao amor mesmo sabendo ser algo proibido, ou continuar sem saber o que é amar e ser amado por uma mulher.
Vou admitir que custei um pouquinho a pegar o ritmo do livro. Não que a narração [feita por Naser] fosse ruim ou cansativa, mas sim porque logo no início é apresentado um mundo totalmente novo e com uma cultura que, digamos, é difícil de entender e de tentar se imaginar nela, principalmente se você for uma mulher ou um rapaz de boa aparência, pobre e estrangeiro.
Porém, rompidas as barreiras das diferenças culturais, pude desfrutar dessa história, que, como diz na própria capa, se trata de um romance, mas também das memórias do autor, um eritreu que morou algum tempo em Jidá.
Todo o sofrimento que o livro traz acaba se tornando apenas um plano de fundo em relação à força e à luta de um amor num lugar onde esta palavra já não existe mais no vocabulário.
É incrível, e muitas vezes até cômico, tudo o que os personagens principais da trama fizeram para se encontrarem e poderem conhecer o amor. Tanto Naser, quanto a menina dos sapatos rosas [que não diz seu nome verdadeiro nem no final] aparentam ser reais e, antes de mais nada, humanos. Não são corajosos natos, mas aprendem, com o tempo, a superarem seus medos e a lutarem pelo que acreditam, mesmo que isto vá de encontro a toda tradição da sociedade em que vivem.
Enfim, gostei bastante do livro e recomendo, apesar de ter achado o final muito triste. Também adorei as várias palavras na linguagem local dispostas organizadamente em um glossário no final do livro. *.*
Para terminar, aí vai uma citação:
“Aconteça o que acontecer, não morrerei. Farei o que for preciso, porque ainda não vivi, porque desejo ardentemente viver. E a vida, eu sei, é bela.” Página 392.
Salam pra vocês e até a próxima!!
Nota da capa: 5/5
Comentários: Apesar de simples, fui cativada pelos olhos castanhos e misteriosos da capa. Achei a fotografia bem instigante e o título em rosa deu um destaque bem especial.
Nota do livro: 4/5


8 Comments

  1. Já conhecia este livro e sempre tive vontade de lê-lo, este tipo de leitura muito me atrai. Valeu, bjs

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  2. Eu gosto muito dos livros que falam sobre o Oriente Medio, sua cultura, etc ... mas acho sempre que sao dificeis de ler e entender , ja' que sao muito diferentes em quae tudo!!!! Boa resenha e boa escolha.

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  3. não o conheço, mas a capa é impressionante e o titulo é bem carismático.

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  4. os entraves desse tipo de história me deixam sempre muito triste. não consigo ler mesmo. mas fizeste um texto muito bom.

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  5. Pois é, como esse livro é pouco conhecido e quase ñ tem resenhas sobre ele, fiquei ainda + instigada a lê-lo. =D
    Realmente a história é recheada de cenas de sofrimento, mas a força do amor acaba falando + alto, nos deixando + esperançosos com toda a trama. *.*
    Obrigada pelos comentários!!
    Bjos

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  6. Também gosto desta temática e embora ela tenha ficado um pouco banalizada com o boom de livros sobre o Oriente Médio, este livro parece fugir um pouco do que tenho visto nas prateleiras, e merece uma chance ;)
    estrelinhas coloridas...

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  7. A cultura também me fascina, sinto que um mundo novo se descortinar diante de mim. Acho bacana permitir-nos a nós mesmo conhecer histórias de vida que distam um mundo de nós. Muito legal a sua resenha!

    Bjs

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  8. Nossa Kycia, eu nunca tinha ouvido falar nesse livro, mas pela sua resenha parece ser muito bom. Da cultura árabe (especialmente Arábia Saudita), o mais próximo que cheguei foi da trilogia "Princesa", da Jean Sasson.

    Parabéns pela resenha!

    Abraços!

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